os Estados Unidos são o pior lugar do mundo
pior, muito pior, que o pior lugar imundo
neste mundo vasto mundo não basta, Raimundo,
dizer there is no alternative, sem plumo e sem rumo,
diante das comunicadas barricadas de vistas iscas de oligopólicas trapaças,
na consumista submissa televisiva niilista missa das massas,
há que buscar a puta luta, Raimundo, contra o luto vulto das imperiosas
argamassas.
os Estados Unidos são a democracia de araque
a dita dura da pica mole drogada nos foles de fumaças cortinas de publicidades
o santo de pau oco cujo raso fundo não tem gema ovo de povo no genocídio do
Iraque
o país que é a unida híbrida vara dos unidos estados de craque
o deformado país que é a híbrida tricabeça de iraquianas crianças de Faluya
onde o racista Viagra de seu fósforo branco envenena o útero futuro mundo,
e no raso e no fundo
tem uma plutocracia, eu vi, que Mandona é dona, desde Wall Street,
do dólar da colombiana cocaína, com as suas paramilitares bases de
americanidades,
o Afeganistão de sua terrorista militar assassina energia de tribal combustão de
infantilidades
porque Osama nas alturas é sua peidal cara metade
a parte que arde como nervo servo de sua maldade
no Obama sorriso de traição contra a negritude vivacidade
a solução solúvel da volúvel vulnerável etnicidade
venal analgésico de obamaníaca anal compra e venda de realidades
através da étnica fálica faca pseudo onto conto de brancais bacanais de
celebridades
que jamais amais as bélicas amarras armais de oligarcas garras de castas,
bestialidades
pelos pastos vastos globais de neoliberais imperiais imposturas, fugacidades
espalhadas abelhais enxames de vesperais ferrões de patriarcais vitais
mortandades,
em fugas de campos pluviais, as forcas forças banais atam e matam nas
cotidianas brutalidades
pelas cacofônicas buzinas de usinas de resinas as fatigadas retinas como
arcádicas cansadas fugas das cidades, inconstitucionalidades,
enquanto elas mesmas, as letais cidades imperiais, bombardeiam vídeos
anestesiantes
como se fossem luxo os barracões dragões de ilusionais tiroteios de hipocrisias
estetizantes,
nas faveladas fivelas sobre seus negros-mestiços feitiços contra haitianos
habitantes
os Estados Unidos são o pior lugar do mundo
porque lá é o sismo istmo do centro do terremoto
raso e profundo, de invasivas evasivas maremotos
de corrupções
de mistificações
de falsificações
de reificações
de mutilações
das utópicas transgressões de pluritópicas soluções em políticas culturas de
econômicas coletivas e individuais rebeliões de emoções de comoções de
transformações das/nas mundanas Mandalas de viagem sem malas de livres
ares de voos de entoos de ações e concatenações de libertárias redes de bio-
di-versificadas conexões de cérebros, ventres e corações, nos horizontes das
descapitalistas revoluções.
porque as aves de lá
dos Estados Unidos dos castelos kafkatraficantes das Américas de k
alguém nos caluniou aqui e em Madagascar
não gorjeiam como as de cá
com seu corvo agouro brilho de midiático ouro
contra tudo que é vindouro
os Estados Unidos sugam e agouram
e se unem contra a alegria dos mouros
na eterna transcendental invenção de um herético outro.
através do viés de religiosas cruzadas usadas e abusadas
contra tudo que é recusado, terrorista por tecer mundos outros,
por não ser os unidos estados do roubo
com seus olvidos ouvidos moucos
não escutam a explosão da infância mundial
em plutônios empobrecidos, estouros
do ventre da mãe Terra no chifre do Touro de Wall Street
este, dos povos,
Pelourinho.
Poema do poeta mineiro, brasileiro,
Luis Eustáquio Soares.
Stalingrado
Em Stalingrado, o ridículo e sanguinário “Reich dos Mil Anos” foi ferido de morte e os soldados soviéticos começaram a marcha para o oeste que só terminariam em Berlim onde, em 8 de março de 1945, impuseram a rendição final à Alemanha nazista.
Stalingrado tornou-se sinônimo mundial do heroísmo e da luta pela pátria e pelo socialismo que, no Brasil, Carlos Drummond de Andrade cantou neste poema.
A banda Bassoti, formada por operários da periferia de Roma (Itália), ligados à esquerda italiana, notória pelos shows que promove contra o imperialismo e em apoio aos povos do mundo, especialmente os palestinos, gravou a música que acompanha o poema de Drummond (José Carlos Ruy).
Stalingrado
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.
Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.
Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.
Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!
A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.
As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.
Do livro Rosa do Povo (1945). In Carlos Drummond de Andrade. Poesia e Prosa. Rio de janeiro, Editora Nova Aguilar, 1983
Esperei (tanta espera), mas agora,
nem cansaço nem dor. Estou tranquilo,
Um dia chegarei, ponta de lança,
com o russo em Berlim.
O tempo que esperei não foi em vão.
Na rua, no telhado. Espera em casa.
No curral; na oficina: um dia entrar
com o russo em Berlim.
Minha boca fechada se crispava.
Ai tempo de ódio e mãos descompassadas.
Como lutar, sem armas, penetrando
com o russo em Berlim?
Só palavras a dar, só pensamentos
ou nem isso: calados num café,
graves, lendo o jornal. Oh, tão melhor
com o russo em Berlim.
Pois também a palavra era proibida.
As bocas não diziam. Só os olhos
no retrato, no mapa. Só os olhos
com o russo em Berlim.
Eu esperei com esperança fria,
calei meu sentimento e ele ressurge
pisado de cavalos e de rádios
com o russo em Berlim.
Eu esperei na China e em todo canto,
em Paris, em Tobruc e nas Ardenas
para chegar, de um ponto em Stalingrado,
com o russo em Berlim.
Cidades que perdi, horas queimando
na pele e na visão: meus homens mortos,
colheita devastada, que ressurge
com o russo em Berlim.
O campo, o campo, sobretudo o campo
espalhado no mundo: prisioneiros
entre cordas e moscas; desfazendo-se
com o russo em Berlim.
Nas camadas marítimas, os peixes
me devorando; e a carga se perdendo,
a carga mais preciosa: para entrar
com o russo em Berlim.
Essa batalha no ar, que me traspassa
(mas estou no cinema, e tão pequeno
e volto triste à casa; por que não
com o russo em Berlim?).
Muitos de mim saíram pelo mar.
Em mim o que é melhor está lutando.
Posso também chegar, recompensado,
com o russo em Berlim.
Mas que não pare aí. Não chega o termo.
Um vento varre o mundo, varre a vida.
Este vento que passa, irretratável,
com o russo em Berlim.
Olha a esperança à frente dos exércitos,
olha a certeza. Nunca assim tão forte.
Nós que tanto esperamos, nós a temos
com o russo em Berlim.
Uma cidade existe poderosa
a conquistar. E não cairá tão cedo.
Colar de chamas forma-se a enlaçá-la,
com o russo em Berlim.
Uma cidade atroz, ventre metálico
pernas de escravos, boca de negócio,
ajuntamento estúpido, já treme
com o russo em Berlim.
Esta cidade oculta em mil cidades,
trabalhadores do mundo, reuni-vos
para esmagá-la, vós que penetrais
com o russo em Berlim.
Carlos Drummond de Andrade 1945
A cidade a três nomes enfim liberada
Após meses de fogo, de sangue e de luta
Crescerão novas flores na terra arrasada
Quatro mãos amorosas dar-se-ão à labuta
As estátuas dos mestres serão reerguidas
Seus discursos de classe serão retomados
E animados darão testemunhos de vida
Convocando à batalha operários-soldados
Soarão balalaicas por toda a cidade
Humilhado será outra vez o inimigo
Condenado ao inferno por nímia maldade
Desfilando seus trapos, figueira sem figo
Opoente da vida e da felicidade
Destinado a ser lenha por justo castigo
Recife, 24/04/2023
Poema de Emerson Xavier da Silva
Rosas dos povos, flores, roxo de pervinca
Esperançosas, velhas vítimas da fome
Ora ressurgem, ei-las, conquistam Maryinka
Para aliviar bem mais o verdadeiro homem
Não vejo os corpos mortos, corpos mutilados
Dos que teriam mais que a própria morte a dar
Todos, para existir, se fizeram soldados
E hoje lutam conscientes às portas de Ugledar
Seja vossa vitória uma chance à verdade
Sejam tempos infames enfim revelados
Derrotado pra sempre o dragão da maldade
Servo, escravo da terra sempre condenados
Em lutar, resistir, nossa felicidade
Nossa sede de paz, nossos corpos blindados!
Recife, 30/3/2023
Poema de Emerson Xavier da Silva
Longe da estepe russa, da tundra ou da taiga
entre coqueiros altos e sertões transidos
confeiçoo conceitos já esvanecidos
produzo uma quimera feita cabra-saiga
Desvio o pensamento à rima dissonante
e ao encavalgamento que tempere o tema
e torne suportável o tão velho dilema
qual desejar presença e sempre ser faltante
Não sendo a paz a ausência da chamada guerra
disparo versos raros na batalha estética
e junto-me ao combate, ora em Avdeyevka
Liberta, Centurião, a nova finisterra
e que sem farda eu possa ser-te solidário
sem ter de repetir teu gesto necessário.
Recife, 21/03/2023
Poema de Emerson Xavier da Silva
A tempo descobri teu nome certo
De um tempo certo de fraternidade
Nomear-te era amar-te a peito aberto
Numa só pátria, toda a humanidade
Artyomovsk, de todos, camarada
Não sabia, então, do ódio importado
A luta era de classes e mais nada
Separaria irmãos do mesmo fado
Que Artyom ressuscite e que bandeiras
Rubras puras voltem a tremular
E que estas dores nos sejam derradeiras
Últimas penas da terra e do ar
Cresçam plantas na terra onde há trincheiras
E que um só maio ensine o que é amar.
Recife, 01/4/2023
Poema de Emerson Xavier da Silva
A câmera transmite, presa à sua farda
Toda a fragilidade de todo momento
A História é corpo de partículas do tempo
Ali escrita por seu corpo de vanguarda
Em que ora pensa o outro moço do outro lado?
Agora sabe a causa sua quão bastarda?
No avanço filma aquele que não se acovarda
De liberdade e pátria sempre bom soldado
Ouviu, soldado, os versos das dores do mundo?
Seu combate hoje esculpe o busto da história
De toda alma viva será sua vitória
Diante da tela plana um desejo profundo
Que o dragão da verdade destrua essa escória
Vuhledar nova etapa a caminho da glória!
Recife, 17/3/2023
Poema de Emerson Xavier da Silva
A esperança dos povos à rima mais rica
Inda resta esperança, inda resta quem lute
Na bravura dos soldados, naquela de um nica
Hoje todas batalhas se chamam Bakhmut
Resistente quem vai, resistente quem fica
Eco de Stalingrado que inda repercute
Cada tiro uma nota da trova mais lírica
Antessala da paz para todos: Bakhmut!
Virão novas colheitas de sorgo e de trigo
Vossos campos regados por chuva bendita
Outra vez vossas línguas dirão: meu amigo!
Na vitória do verso, a língua mais bonita
Sou poeta imperfeito e tudo o que consigo
É dizer que Bakhmut em meu peito palpita
Bahia, entre Vitória da Conquista e Valença
O1/3/23
Poema de Emerson Xavier da Silva
As cidades batalhas que a História contempla
de muitas esqueci, recordo o nome dessa
que Eisenstein mostra viva, coragem que exempla
e se canta e se grita e se chora: Odessa!
Caiu Kharkiv e outras cairão, sem pressa
Ontem liberamos Berlim, hoje é Kiev
Mas antes Krasnodar, Chernikhiv e Odessa
que ao sonho voltará como em dias de greve
de salões, de poemas, de quadros, de festa
de votos de retorno aos braços da mãe terra
e que jamais se aparte a boa filha desta
o canto à voz, a cor ao quadro, ao teatro a peça
mais bela a tua primavera após a guerra
e todos rimarão teu nome verso Odessa!
Poema de Emerson Xavier da Silva
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